Sobre a atividade avaliativa e seu objetivo
texto por Vinícius Muniz
Nas últimas semanas de estágio, participamos de algumas atividades orientadas pelo professor supervisor que nos apresentou o método de avaliação proposto aos alunos a cada novo conteúdo, como forma de introdução. Tendo como base a nossa experiência na correção desses trabalhos e da discussão nas reuniões do PIBID, algumas questões foram levantadas a respeito dessa forma de avaliação e sobre avaliações de forma geral. A partir disso, pretendo expor aqui o método avaliativo com o qual tivemos contato e, a partir dessa exposição, fazer ponderações sobre o seu objetivo e o quanto ele funciona para cumprir esse objetivo.
Sempre antes de começar um novo conteúdo, o professor solicita um trabalho sobre o autor contendo uma biografia resumida e a explicação de algum conceito que será trabalhado nas próximas aulas. A correção dessa atividade leva em consideração outros aspectos que não o conteúdo propriamente dito; aluno obtém a pontuação máxima (um ponto) caso o trabalho possua capa, referência bibliográfica específica (não o link genérico do site, mas da página que foi utilizada), uma imagem (podendo ser impressa ou ilustrada) e tenha escrito todos os tópicos sobre o autor que foram requeridos. Além disso, o trabalho deve ser escrito integralmente à mão.
Nessa forma de correção, o que se avalia do conteúdo do trabalho é se ele existe ou não; se todos os aspectos da biografia e da teoria do autor que o professor solicitou foram citados. Conceitos errados ou imprecisos não são motivo de nota baixa. Até porque o professor entende que os alunos não têm conhecimento suficiente do assunto para discernir entre uma boa e uma má explicação. A cópia integral do conteúdo de um site, nesse caso, não é algo indesejado. É, na verdade, esperado e incentivado.
O que se espera que o aluno faça no trabalho está relacionado diretamente ao objetivo do professor com o trabalho. Ele não espera que o aluno busque vários sites sobre o autor e escreva com as próprias palavras um trabalho original. O objetivo é que, por meio da cópia à mão da explicação pronta de algum site, o aluno tenha contato com o autor e gaste um tempo do seu dia lendo e escrevendo sobre ele. E, mesmo que a escrita seja apenas a transcrição do que outro alguém elaborou, o professor entende que o aluno, por passar um tempo lendo o que está copiando, em alguma medida, absorve algum conteúdo durante o processo.
Primeiramente, esse objetivo proposto – absorver algum conteúdo através da cópia – parte da dificuldade de engajar os alunos na leitura de filosofia. E, por se tratar de uma forma fácil de obter uma boa nota, com critérios simples e objetivos e que não requerem reflexão, os alunos se dedicam na realização da atividade; por mais chato que seja copiar duas páginas de texto, ainda é menos trabalhoso do que elaborar do zero essas duas páginas. Além disso, com essa atividade, os alunos de fato têm contato com o conteúdo, pois há pontos específicos das teorias que eles precisam buscar para conseguir fazer a atividade. Sem contar que o exercício de gastar, regularmente, um tempo do dia em pesquisa e escrita de trabalho serve como “treino” para demais atividades que eles vão precisar realizar fora da escola, como as extensas provas dos vestibulares e do ENEM e as atividades que vão desenvolver no ensino superior. Dessa forma, o professor cumpre o seu objetivo de fazer os alunos “terem algum contato” com o conteúdo e ainda cumpre um papel colateral de manter os alunos em um ritmo de leitura e realização do trabalho que será útil em um possível futuro universitário.
No entanto, há dois questionamentos sobre o objetivo intencional do professor que podem ser feitos: esse contato entre aluno e conteúdo que o professor provoca dá resultados? E, caso a resposta seja sim, esse resultado é positivo? Sobre a primeira pergunta, é importante lembrar que os alunos não estão elaborando a escrita do trabalho, mas apenas copiando. Durante a nossa correção dos trabalhos, foi possível identificar alguns trabalhos cuja transcrição feita pelo aluno foi tão precisa que ele passou para o papel erros claros de digitação presentes no site que ele consultou. Como é o caso do site que comeu todas as letras “n” de “não” e resultou em um trabalho repleto de “ão’s”. Isso nos leva à conclusão de que a atividade de transcrição do aluno não necessariamente resulta em absorção de conhecimento, pois são vários os trabalhos em que fica claro que não houve atenção ao material fonte durante a realização da atividade. Todos esses problemas são apontados na correção do trabalho para que o aluno saiba quais foram seus erros e acertos e o que compôs a sua nota.
Ademais, mesmo considerando que alguns alunos possam ter lido e aprendido sobre o tema do trabalho durante sua realização, é importante ressaltar que tanto a bibliografia quanto o conteúdo não têm o seu valor avaliado, mas apenas sua presença no trabalho. Dessa forma, os alunos que se atentaram ao que estavam lendo podem facilmente ter apreendido conteúdos imprecisos ou simplesmente errados. A liberdade para pesquisar sobre o assunto onde preferir e a falta de conhecimento prévio do aluno sobre o tema que está trabalhando leva ao problema de não saber separar uma fonte segura de uma que não o seja. Isto é, mesmo na parcela dos alunos que prestaram atenção ao que leram, não é possível afirmar que o que eles aprenderam está, de fato, correto.
A partir da exposição dos pontos positivos e dos problemas encontrados na atividade avaliativa exposta acima, foi possível chegar a algumas sugestões de como atingir os objetivos do professor e ao mesmo tempo evitar os problemas que decorrem do método atual a partir de algumas alterações no método avaliativo do professor. A começar pelo problema da fonte, o qual poderia ser resolvido com o fornecimento das fontes ou de um texto base pelo professor, de forma que ele possa garantir uma base segura para todos os textos.
No entanto, mesmo assegurando a fonte dos alunos, ainda existe a possibilidade de que eles não leiam o material base no momento da transcrição, de forma que se faz necessário mudar o modelo de “cópia” do trabalho. Uma solução para isso, é que, a partir de um material base fornecido pelo professor, o aluno, em vez de simplesmente copiar o texto, responda alguma pergunta que exija que ele não só leia, mas entenda e trabalhe o texto, como por exemplo “explique os dois tipos de juízos expostos por Kant no material fornecido”.
À parte dessas mudanças, a manutenção da correção que valoriza a parte mecânica – capa, bibliografia, imagem – seria útil para manter o engajamento, mas sem deixar de lado a avaliação do conteúdo da atividade, pois não é suficiente que os alunos respondam, é importante que eles saibam se o que eles elaboraram está correto. E, por fim, além de tentar solucionar os dois problemas presentes na forma atual de avaliação, esse novo formato seria ainda mais útil como preparo para vestibulares ou ENEM, uma vez que essas provas exigem uma boa capacidade de interpretação textual, algo que não é treinado em um modelo de avaliação que não exige reflexão.