Presença de Crianças Autistas no Ambiente Escolar

 

Presença de Crianças Autistas no Ambiente Escolar

texto por Jéssica Maria Ferreira (bolsista PIBID Socio/Filo)

 

Tanto a definição de autismo quanto o termo mais adequado para referir-se ao transtorno passaram por diversas alterações ao longo dos anos conforme os estudos sobre o tema avançaram. Atualmente, a definição mais utilizada apresenta como “um transtorno que provoca atraso no desenvolvimento infantil, comprometendo principalmente sua socialização, comunicação e imaginação.” (Kanner, apud Menezes, 2012, p. 37). Entretanto, a maneira como essas áreas são afetadas diferencia-se para cada indivíduo. Por conta disso, o diagnóstico recebe o nome de Transtorno do Espectro Autista (TEA), trazendo destaque aos diversos graus de manifestação.

 

Por atingir as características sociais e cognitivas do indivíduo, o TEA pode ser notado logo na primeira infância. De acordo com o Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente da UFMG, crianças podem ser diagnosticadas logo entre os 2 anos de idade, sendo no Brasil mais comum que o diagnóstico seja feito um pouco mais tardiamente, entre 5 e 7 anos. Este diagnóstico mais tardio pode trazer consequências negativas no futuro por impedir que a criança receba os cuidados que necessita, porém, um acompanhamento precoce, com assistência terapêutica e um cuidado para respeitar as necessidades da criança diagnosticada, permitem um melhor desenvolvimento e ajudam para que a influência dos sintomas no dia-a-dia seja minimizada.

 

O Brasil tem buscado uma maior integração de crianças neurodivergentes no ambiente escolar, isso inclui crianças com TEA. Dados do censo escolar de 2021 indicam que em torno de 300 mil alunos com TEA encontravam-se matriculados em escolas ao redor do Brasil, tanto públicas quanto privadas. Embora o número traga uma alta de 280% quando comparado ao senso de 2017 (onde 77 mil alunos com autismo estavam matriculados), ainda há um longo caminho a percorrer quando analisado que o país possui em torno de 1,5 milhão de pessoas com TEA.

 

Porém, apenas matrículas não indicam necessariamente uma inclusão efetiva, é importante levar em consideração as medidas utilizadas por essas instituições para garantir um desenvolvimento satisfatório dos alunos. Cartilhas e documentos que abordam o tema apontam como é fundamental que os educadores sejam capacitados para acompanhar crianças neurodivergentes e capazes desenvolverem na sala de aula métodos adequados para alunos com TEA, de forma que possam abstrair o conteúdo o mais completamente possível. Além disso, a presença de um educador específico para acompanhar os alunos com necessidades próprias de forma mais aproximada também pode auxiliar para o manejo destes alunos em situações adversas, como crises, para não apenas ajudá-los nesses momentos como também criar um espaço apropriado na sala de aula para prevenir ou amenizá-las. 

 

Entretanto, este cenário não é o mais comum nas salas de aula, muitos educadores não recebem o treinamento ou material necessário para que ocorra esse acompanhamento e ainda indicam problemas de comunicação com a escola, que não informa com antecedência aos professores a presença de alunos com TEA em sua turma, o que impede que possam estudar e preparar aulas mais adequadas.

 

A falta de preparação também pode ser vista entre os monitores acompanhantes destes alunos, que são contratados sem terem a qualificação necessária e não são capacitados para o manejo de crises. Estes fatores não apenas impedem que as crianças com TEA sejam desenvolvidas de maneira eficiente, como também prejudicam sua socialização com a classe, não gerando a inclusão pretendida, mas na verdade afastando mais os alunos.

 

Ao lembrarmos que o social não é feito por apenas um indivíduo, e sim um conjunto de pessoas interagindo num ambiente, entendemos que para analisar elementos de socialização, é necessário lembrar do papel do outro também. Ao discutir o desenvolvimento social de qualquer criança, seja ela neurodivergente ou não, trata-se também do ensino sobre interações e comunicação. 

 

Levando esses pontos em consideração, a presença de um educador preparado que, não apenas acompanhe o aluno com TEA, mas também eduque as outras crianças ao seu redor sobre temas de neurodivergência e TEA, permite que se tenha um maior cuidado com aquele aluno por parte de seus colegas. Apresentar de forma divertida e instrutiva as diferentes vivências de cada indivíduo trabalha a empatia e o respeito entre os alunos. Técnicas como as do Professor Pedro Rosário, que utilizou de livros com narrativas simples e lúdicas para introduzir temas complexos aos alunos, mostram-se muito efetivas neste aspecto por trabalharem com a imaginação e a identificação de cada um com os personagens. 

 

Com esta perspectiva em mente, um dos resultados possíveis é que os colegas desenvolvam maior empatia e paciência para as necessidades de alunos neurodivergentes. Permitindo que aos poucos aqueles com TEA sintam-se mais confortáveis em sala, diminuindo situações de estresse. Em um ambiente mais calmo e preparado para a presença de alunos com TEA, a aprendizagem por parte destes é mais efetiva, não porque “recebem tratamento especial”, mas sim, porque aqueles ao seu redor entendem sua individualidade e a respeitam.

 

A partir destas análises constata-se que o Brasil segue em um caminho positivo de maior inclusão, principalmente no âmbito escolar, no entanto as políticas para o desenvolvimento de alunos com TEA ainda são imaturas. A falta de recursos recebidos pelas educadoras afeta a qualidade do desenvolvimento das crianças com TEA, que se encontram expostas a um ambiente despreparado para recebê-las.

 

Para que estas questões sejam solucionadas, é necessário que as escolas trabalhem em integração, ensinem aos mais novos a tolerância e a paciência, trabalhando também o reconhecimento das diferenças e principalmente o respeito, mas não é aprendizado unilateral, a escola como uma equipe de funcionários e professores precisam trabalhar como incluir sem excluir e ensinar de forma geral, não deixando nenhuma criança de fora, trazendo os aprendizados diferentes de acordo com a necessidade de cada um. Este trabalho só pode ser feito com um estímulo ao ensino dos próprios educadores e uma atualização constante dos dados sobre TEA, que vêm sendo fortemente estudados atualmente.